segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Logo eu que tenho medo do que habita o escuro e choro com os braços ao redor do meu próprio tórax durante a madrugada; logo eu, que nem ao menos sei quem sou e sinto o peso de mil seres em meus ombros… Logo à mim foi destinado esse fardo.
Como se já não bastassem os olhos secos, a pele pálida, o coração moído e o espírito em brasa que quer romper-me o corpo e não pode. Como se já não fosse bastante o mundo que me comprime até arrancar o ar, todo santo dia há mais um ser a adentrar-me. São Luísas, Miguéis, Joanas e Lívias com seus jardins floridos e olhos de chuva. Como queria poder chorar minhas dores tal como eles fazem. Eu me alimento da dor que não sinto, dos lábios que não são meus. Enfio-me em outros enredos, invado lares, corações e crio nomes. Eu sou doentia. Fujo e me escondo atrás de narradores e amores que se concretizam porque o meu amor não foi capaz de tal proeza. E tal como uma piada de primeiro de abril condeno outros personagens ao meu infortúnio para não o sofrer sozinha. Eu sou uma pessoa ruim. E quem vai preencher os espaços de uma alma que não conhece limites? Ninguém. Não há quem seja desajuizado o suficiente para, de bom grado, habitar este tornado que é mais do que só uma parte de mim. Eu sou o tornado. Eu sou a faca, mas sou também o sangue e a dor de quem se corta. Eu sou a falta, a saudade e a fé de quem parte e se refaz. Eu sou a beleza e o carma que eu mesma carrego

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